Buenos Aires: La Vineria de Gualterio Bolivar

Buenos Aires - Argentina. É nessa "birosquinha" que funciona o La Vineria de Gualterio Bolivar, restaurante especializado em cozinha molecular do chef Alejandro Digilo, um dos 20 top chefs mundiais e discípulo do Papa Ferran Adrià (El Bulli - Espanha). Confesso que quem olha para a fachada do local, não confia muito no potencial da comida. E foi assim comigo também. 

O local é pequeno e quente, já que a cozinha industrial ocupa boa parte do espaço, diminuindo a potência do ar condicionado. A casa oferece à clientela dois tipos de menu: 11 ou 14 passos (pratos). Não existe menu a la carte. A opção pelo menu-degustação de 14 pratos custa 190 pesos. Vou deixar de papo furado e partir direto para as inovações. De cara, foram oferecidos palitinhos de pão torrado acompanhado de azeite texturizado com azeitonas pretas secas.

Depois, apareceram uns torresmos de pele de peixe com espuma de shoyo e um drink de água de pepino com caviar de trufa. Também surgiu um ceviche de salmão e corvina, cujo o molho de limão vinha congelado e estourava na boca (para mim, foi a surpresa da noite). 

Existiram outras entradas, mas também não vou ficar descrevendo coisa por coisa. Passamos logo para uma salada de folhas, frutas congeladas e flores, com fois gras e leite de soja (uma delícia a combinação). Depois de um "nossa!", chegou uma obra chamada huevo-pan-trufa, que consiste em uma delicada lâmina de pão tostado, recheado de gema de ovo poché, suco de asa de galinha, queijo cremoso de ovelha, azeite texturizado de porcini e tapioca (muito bom também).

O próximo foi show também: lata de calamares (lulas) em conserva, com direito à mini gelatinas de chá branco, colher furada para escorrer o vinagrete e ferrugem nas bordas pra dar um gosto mais autêntico (risos). Ah! Vale dizer que, a cada prato, o funcionário explicava no que consistia o "passo". Juro que preferia não saber o que estava por vir: bochecha de boi com gelatina de maçã verde e ar de maçã verde. A consistência da carne era estranha, porém existiu harmonização na combinação. Tanto a gelatina quanto o ar de maçã verde eram fantásticos (palavras de Mariana Leite). 

Depois, provei do lúdico "Mar y Montaña" (que tinha a montanha de farofa de vieira, mar de caldo de peixe e até mesmo algas de chá verde), seguido do "Salmon 50º" (com pimenta rosa e redução de alcachofra) e Carrillera com quinoa (esse também não fazia questão de saber o que era: barriga de porco). 

Cansados? Ainda tiveram mais 2 pratos salgados: "Lomo de cordero com papas fritas" (esse comi bem devagar para demorar! A espuma é uma espécie de batata frita líquida!!!) e "Cordero sin cordeiro" (um prato onde você não enxerga carne de cordeiro, mas que você sente o gosto em todo canto. Estranho!).

Por fim, chegamos na parte das sobremesas, compostas de "Frutilla-Moscovado" (morango, com alfazema e sorvete de açúcar mascavo), "Sierra-Bruma" e "Petit Four". A Sierra-Bruma é a "cara" da cozinha experimental, pois trata-se de indescritível chocolate em diferentes texturas: bombom de iogurte com crispy de chocolate, sorvete de queijo de cabra, mousse de chocolate amargo, sobre um crocante de chocolate sem farinha. Ah, e o que é aquilo ali em cima? O prato é apresentado com uma nuvem de cacau produzida com nitrogênio líquido. Assim que colocam na mesa, você não consegue enxergar nada. LOL!

Resultado: saí muito satisfeito com a experiência. Claro que não é um restaurante para ir toda hora, mas é algo singular no mundo gastronômico. E mais. O preço é relativamente barato quando comparado com outros restaurantes nesse mesmo estilo (D.O.M, El Bulli, etc...). Não tiro o mérito desses outros, porém, a questão do valor pode influenciar na escolha do consumidor, ainda mais para aqueles que curtem esse tipo de aventura apenas em viagens, como eu. Como Ferran Adriá mesmo diz "O fundamental é a emoção. Sem ela, nada acontece". E emoção não faltou...